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Mini Fic - O Começo de Tudo

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Mensagem por Lolla Aryan Seg Abr 02, 2012 9:39 pm

Bem, como eu tenho problemas em ficar muito tempo trabalhando na mesma coisa, fiz essa mini fic pra... Descontrair.

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Era um dia comum na escola. Eu conversava com Ashley enquanto Nick paquerava umas garotas (sem sucesso). Elas tinham 9 anos, então acho que ficaram meio irritadas pelo fato de Nick estar estragando a festa de Barbies delas. Enfim. Até que vejo uma coisa estranha que vinha acontecendo a algum tempo:
-Ash, aquele garoto estranho está encarando a gente de novo. - Mordi o lábio e ela se virou para olhar Tommy Fields. Ele era realmente um garoto estranho. Usava calças mesmo no calor de São Francisco, e sempre um casaco com capuz. Devia ter... Não sei. 12 anos? 13? Era difícil dizer com certeza. - Não olha agora! - Fitei-a.
-Que se dane. Quero que ele saiba que estou vendo. - Ela deu de ombros. Graças a Deus, o sinal tocou. Isso significava pras pessoas normais que era Educação Física. Mas pra mim e Ashley queria dizer 'hora de conversar por uma hora enquanto andamos calmamente pela quadra pra depois sermos mandadas pra diretoria por conversar e andar.'. Então lá fomos nós. Passamos no vestiário pra colocar a roupa de ginástica (que era totalmente inútil no nosso caso, mas obrigatória). Abri meu armário e achei uma caixa de bombons me parabenizando por ser legal. Você pode achar isso muito lindo, mas a caligrafia era de Amy Adams. Então tinha algo podre naqueles bombons. Cheirei. Amendoim. Sou alérgica a amendoim. Encarei Ash, mostrando os bombons.
-Me dááá? - Ela pediu.
Dei de ombros.
-Pode ficar. - E dei-lhe os bombons.
-Ah, e não se preocupe. Já fiz a vingança. - Ela disse com a boca meio cheia, olhando para algo atrás de mim. - 3,2,1... - Virei a cabeça a tempo de ver Amy abrir seu armário. Um palhaço daqueles que espirram água estava lá. Ele disse algo como 'Morraaa!', antes de espirrar água nela. Não, espere. Não era água. Era mostarda. Caí na risada vendo sua roupa de marca adquirir um tom amarelado. - E a mostarda estava vencida. - Ash completou. - Não sabia o que fazer com ela. Estava no meu armário à séculos... E achei o palhaço no chão do ônibus escolar. - Ela deu de ombros.
-Eu adoro você. - E fiz um cafuné em sua cabeça.
-Suas.. Suas... - Amy encarou-nos, atônita. - Suas vadias oxigenadas!
-Wait, wait. - Ash parou. - Eu não sou oxigenada!
Belisquei-a.
-...E a Lolla também não! - Ela completou.
-Seu jeans é oxigenado. - Amy apontou para o jeans da Ash. Tinha algumas partes que haviam sido descoloridas com água oxigenada pra ficarem mais claras.
-Essa foi tosca. - Eu ri.
Amy pegou o palhaço.
-Morram! - E jogou o palhaço emostardado na gente. Eu agarrei o palhaço sem nos sujar e Ashley o tacou de volta pra Amy. A mira de Ash sempre foi muito boa. E isso fez com que o palhaço acertasse beeem no cabelo enchapinhado de Amy. Ficamos lá somente o tempo de ver Amy berrar. Saímos correndo alguns segundos depois. Afinal, quem tem provas de que fomos realmente nós (ou Ashley) as culpadas do acidente da mostarda? Enfim. Chegamos na quadra alguns minutos depois. Quando o professor nos encarou, percebi uma coisa: Não tínhamos posto a roupa de ginástica.
-Estão atrasadas. - O professor nos encarou. - E cadê o uniforme?
-E por que nós deveríamos saber? - Ash encarou-o de volta.
-Talvez porque o uniforme é de vocês. - Ele levantou uma sobrancelha.
-Então, tio. Eu tenho minhas suposições. Número um: - Aquilo ia demorar... - A única pessoa que tem a chave do nosso armário é a tiazinha mal encarada e maconheira da limpeza.
-Maconheira? - O professor se segurou pra não rir.
-É! Ela tá sempre com um charuto na boca, e olha, eu posso jurar que aquilo é cheiro de maconha! - Ela disse, fingindo indignação
-E ela tem um saco com pedrinhas no bolso. - Completei. - Posso jurar que vi ela cheirando aquilo um dia desses...
-Enfim, garotas. - Ele nos cortou. - Se não tiverem uniforme, não vou poder deixar que façam a aula.
Um brilho se formou em nossos olhos.
-É... é mesmo? - Ash fitou-o, atônita.
-E com isso eu não quero dizer sentar na arquibancada e falar mal da vida dos outros, como vocês fingem que não fazem, srta. Thompson. - Ele a encarou. - Quero dizer passar na sala da coordenação.
Ash mordeu o lábio.
-Aaaai! Aiaiai! - Ela começou a berrar, pulando em um pé só. - Torci o péé! Não posso fazer aula com o pé machucado! - Ela mentia descaradamente.
-Duvido que vá deixar a srta. Aryan aqui sozinha, então. - O professor a encarou.
Ashley deu a louca e chutou minha canela com o pé ‘bom’.
-Droga, Ashley! - Berrei, minha canela dolorida.
-Agora ela também está machucada! - A garota encarou o professor.
-Quer que eu faça o que? Mande vocês pra enfermaria? - Ele deu um sorriso desafiador.
-Poupe tempo. Tenho certeza que a tiazinha lá vai mandar a gente só assistir a aula. - Dei de ombros.
-Se eu fosse vocês eu tratava de achar o uniforme rápido. - O professor continuava nos encarando.
-Manda a maconheira devolver! - Ash protestou.
-Ashley Thompson. - Ele advertiu. - Pare ou vou ter que mandar vocês duas pra coordenação.
-E qual o MEU motivo pra ir pra coordenação? - Levantei uma sobrancelha.
-Encorajar a srta. Thompson. - Ele respondeu calmamente.
-Ah, claro. - Disse, meu tom seco. - É o sonho da minha vida sentar naquela cadeira miserável que deixa a bunda doendo por uma semana e ouvir aquela Umbridge atormentada falar coisas sem noção. - Ok, talvez eu tenha exagerado um pouquinho... Mas Ashley achou que não:
-Espero que seja feliz com a tia da limpeza. Que procriem muitos maconheirinhos e sejam uma linda família de dependentes! - Se eu achava que tinha exagerado, não tinha visto nada.
-Suas... suas... suas delinquentes! - Ele nos encarou, assustado. - Onde aprendem essas coisas?
-Nick. - Respondemos em uníssono.
-Mas.. Nicolas tem 9 anos. - Ele observou.
-Mas é o Nick! - Eu disse, como se isso explicasse tudo. (E realmente explicava)
-Que seja. DETENÇÃO, AS DUAS. - Ele berrou. - Os mais velhos estão em detenção agora, e como estou com pressa e quero que sumam logo da minha frente, tenho certeza que a professora Jill vai ficar muito feliz que vocês se juntem a eles. - Ele nos encarou. - VÃO. LOGO.
Após Ashley resmungar algo sobre ele precisar de mais umas fungadas pra ficar de boa, fomos pra sala de detenção (que sabíamos exatamente onde ficava). A professora de Português do Fundamental II, a Jill, nos encarou por cima de seus óculos fundo de garrafa.
-Quem mandou vocês dessa vez? - Ela levantou uma sobrancelha.
-O professor Átila. - Ashley tinha sérios problemas em dizer ‘Átila’ sem rir.
-O que andam fazendo, hein? - Ela sorriu. A verdade é que Jill era simplesmente... demais. Como ela era responsável pela detenção de todas as turmas, vivíamos na sala dela. Mas ela não dava a mínima pra nada do que nenhum aluno fazia. Portanto, alguns alunos até iam pra detenção de propósito, só pra passar uma hora bestando, ou tacando papel no ventilador, vendo ‘os moleques grandes’ se socarem, ou conversando animadamente (como eu e Ash fazíamos).
-Acusamos ele de ter um caso com a tia maconheira da limpeza. - Ash deu de ombros.
-Aquela mulher é realmente esquisita... - Jill concordou, rindo.
-Né! - Ashley sorriu diante da compreensão da professora.
-Podem sentar-se. - Ela falou. - Ou fazer o que quiserem. Que seja. Mas já sabem...
-Se a Umbridge chegar, vamos todos a sentar! - Dissemos em uníssono. Esse era um dos lemas da Jill. Ela assentiu e entramos na sala. Estávamos andando para os nossos lugares quando Ashley parou do nada e me segurou.
-Que é? - Reclamei.
-Ele! - Ash mordeu o lábio. Virei-me pra ver o que ela tanto olhava. Tommy Fields nos encarava (pra variar). Aquele moleque estava nos seguindo, ou o quê?
-Deixa, Ash. - Dei de ombros, fingindo não estar desconfortável. Ficamos falando de coisas tontas por uns 15 minutos, antes de alguém bater na porta. Isso fez um mini auê nos detidos, que se sentaram rapidamente, preocupando-se em deixar a coluna ereta. Mas quando a pessoa abriu a porta, todos relaxaram ao ver que era só o meu irmão. Após Jill declarar isso, me encarou.
-Isso é de família? - Ela riu.
-Deve ser... - Dei de ombros e encarei meu irmão. - Que tu fez dessa vez?
-Falei pra professora que ela cheirava a suvaco de macaco. - Ele deu um sorrisinho.
-Ei, essa é minha! - Ash protestou. Ela tinha razão, a garota vivia falando isso, entre muitas outras coisas sem noção.
Jill olhou pra ela.
-Boa essa! - Ela aprovou.
-Brigada, Jill. - Ash riu.
-Bem, sente-se, Sr.Aryan-Delinquente-2. - Jill encarou Nick.
-Por que eu tenho que ser o 2? - Ele reclamou.
-Porque ela gosta mais de mim. - Provoquei.
-Bem, seria anti-ético concordar com isso... - Jill observou.
-Desde quando se importa com o que é ético? - Ash levantou uma sobrancelha.
-Ei! - Ela protestou. - Eu me importo muito com isso! - Ela tentou parecer séria, mas caiu na risada. - Ah, sente logo.
E Nick obedeceu. Para minha surpresa e espanto, ele, entre tantos lugares, escolheu um específico - atrás de Tommy Fields.
-E aí, Fields? - Meu irmão cumprimentou.
-Faaala, Aryan. - Ele falava como se já se conhecessem à muito tempo. Eles começaram a conversar sobre coisas idiotas, cujas não me interessavam. Até que o povinho todo ali da detenção (umas 10 pessoas) resolveu jogar Verdade ou Desafio. Meu irmão ficou enchendo o saco pra eu e a Ash entrarmos, e acabamos topando. Eu conhecia a maioria dos amigos do meu irmão (e a maioria também estava na detenção). Já havia subornado vários deles quando queria alguma coisa. Era só contar algo do Nick que pudesse ser zoado e eles faziam tudo o que eu queria. Enfim. Eu e Ashley fomos jogar também.
-Podem ser café com leite, se quiserem. - Nick olhou pra mim.
-Se alguém aqui tem que ser café com leite, esse alguém é você. - Dei de ombros. - Nós dois sabemos disso.
-Ela tem razão, sabe? - Johnny, um dos melhores amigos do meu irmão, concordou, rindo.
Nicolas ficou quieto.
-Afinal, vamos começar ou não? - Ash reclamou, impaciente.
-Já vai, já vai... - Johnny disse. - Calma!
-Estou calma. - Ela encarou-o. Ninguém mais disse nada. Após alguns minutos, resolvo quebrar o silêncio.
-Afinal, quem começa?
-Eu! - Nick se pronunciou.
-Tá, que seja. - Concordei.
-E eu escolho... A Ashley! - Ele apontou pra Ash. - Verdade ou desafio?
-Desafio. - Ela encarou-o.
-Péssima escolha. - Ele sorriu. - Vamos ver... vamos ver... ah, já sei. Diga que vai ao banheiro, mas passe na frente da sala da Umbridge, e jogue isso. - Ele deu um papel a ela. - A janela de lá sempre está aberta.
-Só isso? - Ash sorriu. - Achei que ia me fazer lamber o tapete, ou algo assim. - Quando Nick ia abrir a boca ela completou: - Não pode mudar. - Ela disse, abrindo o papel que Nick lhe dera. Estava escrito ‘Cansei de crianças. Vou me dedicar totalmente aos bagulhos que ganho mais. Au revòir, Umbridge.
-Átila’

-Sério? - Encarei Nick, tentando não rir.
-Isso aí. - Ele deu de ombros. - Pronta? - E olhou pra Ashley.
-Nasci pronta. - Ela sorriu e pediu pra professora pra ir ao banheiro. E ela foi. Como era Jill, ela deixou que Nick fosse junto. Então sobramos eu e os garotos (só haviam nós de meninas na detenção.), a maioria com mais de 9 anos.
-Então... esperamos? - Johnny perguntou.
-Acho que sim. - Dei de ombros.
-Vamos conversando, então! - Ele sorriu.
-Não vou contar nada do Nick, Johnny. - Eu ri.
Johnny afastou a a franja de seu cabelo cor de chocolate do rosto, e me encarou com seus olhos castanhos.
-Não é isso, Lolla. Só... sei lá. Conversar sobre qualquer coisa.
Conversar com Johnny era algo que eu gostava de fazer. Ele era legal comigo, apesar de meu irmão reclamar disso. Johnny era alguém que eu sabia que podia confiar.
-Ah, claro. - Disse, vermelha. - Sobre o que quer falar?
Eu podia jurar que vi Tommy Fields apurar os ouvidos pra ouvir a conversa.
-Gosta de mitologia, não? - Ele perguntou.
-Adoro! - Sorri. - Já li ‘Odisseia’ umas mil vezes. Em inglês e em grego. A versão grega tem mais detalhes.
-Você fala grego? - Ele me encarou.
-Ah, sei lá. De alguma forma eu entendo o que está escrito. É estranho, não?
-Eu acho legal. - Ele sorriu. - É estranho. - Ele concordou. - Mas é legal.
-Obrigada, acho. - Dei de ombros.
-Acho que vou dormir na sua casa hoje. Podemos fazer uma aula extra de violão. - Ele ofereceu. Só Ashley e Nick sabiam disso, mas na verdade foi Johnny que me ensinou a tocar.
-Claro! Seria... seria ótimo! - Concordei. - E depois pregar peças no Nick? - Não que Nick (ou qualquer outra pessoa) soubesse disso, mas Johnny sempre me ajudava a assustá-lo quando estávamos assistindo algum filme de terror.
Ele riu.
-Com certeza. Tenho uma ideia fantástica pra hoje. Mas te conto depois. - Ele decidiu. Quem dera eu soubesse que aquela noite nunca iria acontecer... E que eu nunca saberia qual era a ideia dele.
-Ok, ok. - Concordei.
-Ei, - Quando Tommy Fields se virou pra falar comigo, eu dei um pulo, surpresa. - Lolla, né?
-É. Lolla. - Fiz que sim com a cabeça.
-Disse que gosta de mitologia, né? - Fiz que sim com a cabeça. - Acha que os deuses, e todas essas criaturas podem mesmo existir?
Pensei por um minuto.
-Acho que não. Nem mesmo os gregos acreditam mais nisso. - Dei de ombros. - Além do mais, sou cristã.
-Nick não é cristão, é? - Johnny perguntou.
Eu o encarei.
-Acha mesmo que eu sei? Ou... me importo?
Ele riu.
-Tem razão. - Ele deu de ombros.
-Enfim. - Tommy se intrometeu de novo. - Gosta de acampar? Viver na floresta, viver aventuras...
Fiquei quieta por um minuto. A verdade é que eu e Nick costumávamos acampar com o ex-namorado da minha mãe (convidamos Ashley uma vez, mas foi um verdadeiro desastre.). Mas depois que ele virou ‘ex’, nunca mais acampamos. Costumava ter saudades daquele tempo.
-Gosto, gosto sim. - Respondi, finalmente.
-Abandonaria sua mãe pra salvar sua vida?
Encarei-o.
-Minha mãe? Me dê grana e um bom motivo que fico bem longe dela. - Dei de ombros. Isso pode parecer malvado, mas eu meio que nunca fui muito próxima da minha mãe. Ela nunca se importou com nada do que eu fazia. - Afinal, que raio de perguntas são essas?
-Só curiosidade... - Ele deu de ombros. Mas seu tom de voz não parecia firme. Um arrepio percorreu meu corpo. - Qual seu deus preferido?
-Athena, com certeza. Adoro tudo o que ela representa. Ela é demais. - Disse, animada.
-Voltamooos! - Ashley apareceu atrás de mim do nada, seguida por Nick.
-Olá, querida. - Sorri. - Fez o desafio?
-Ah, com certeza. - Ela deu de ombros.
-Vocês demoraram. - Johnny observou.
-A janela estava fechada. Ficamos esperando a Umbridge sair da sala. - Nick explicou.
-Enfim. - Encarei Ashley. - Escolhe alguém.
Ela colocou o polegar e o indicador no queixo, tentando parecer pensativa.
-Acho que eu escolho... O Johnny! - Ela apontou para o garoto. Eu sabia exatamente o que ela ia fazer. - Verdade ou desafio?
-Verdade. - Ele respondeu, calmamente.
-O que acha da Lolla? - Ela sorriu. Foi menos ruim do que achei que seria. Ashley amava inventar namorados pra mim.
-Ela é uma boa garota. - Ele deu de ombros. Estava quase que decepcionada com a resposta, quando lembrei que Nick estava lá. Será que era só por causa disso? Bem, eu nunca descobri realmente.
-Hm, sei. - Ela fechou a cara. - Escolhe alguém.
-A Lolla. - Ele me encarou. - Verdade ou desafio?
-Verdade. - Disse, rapidamente.
-Iria comigo no show de talentos da Fnac sábado que vem? Preciso de uma dupla. - Ele sorriu. Meu coração começou a bater mais rápido. Deixavam crianças de 8 anos competir? Ah, dane-se. Não importava.
-Só se pudermos comer um Frozen Yogurt depois. - Dei de ombros, rindo. - Ir ao shopping e não comer Frozen Yogurt é quase um crime.
-Concordo plenamente. - Ele riu. - Escolhe alguém.
-Ela escolhe o Tommy Fields! - Ashley falou berrou por mim.
-Eu escolho, Ashley. - Encarei-a.
Ela me encarou de volta com uma cara tão ameaçadora que nem discuti.
-Verdade ou desafio? - Perguntei pra Tommy.
-Verdade. - Ele respondeu.
-Povo chato... - Ash bufou. - Finja que sou a Lolla: Por que fica nos seguindo e encarando?
-Ashley! - Encarei-a e ela fez a cara ameaçadora de novo.
Tommy riu.
-EU fico encarando vocês? - Ele levantou uma sobrancelha. - De onde tiraram isso?
Ashley parecia estar tentando apertar o pescoço de Tommy mentalmente.
-Não. Minta. Pra mim. - Ela disse, pausadamente.
-Mentir pra ela não dá em boa coisa. - Concordei.
-É sério. - Ele nos encarou.
-Já que não quer falar a verdade, vai fazer um desafio. - Ela declarou. E quando ele ia abrir a boca, completou: - Não foi uma pergunta. E aí pessoal, qual vai ser o mico dele?
-Abaixar as calçaaas! - Meu irmão berrou.
-Não, credo. - Tommy o encarou.
-Então vai até a Jill e fala que os óculos dela são feios. - Ele levantou uma sobrancelha.
-Ok. - Ele concordou de boa e levantou. Mas quando ele se dirigia para a mesa da professora, meu irmão levantou junto e fez uma de suas idiotices diárias: abaixou as calças do Tommy. Eu desviei o olhar quando vi o que ele ia fazer, mas parecia que Ashley não tinha feito o mesmo (tirei essa conclusão pelos berros dela).
-Lolla, olha isso! - Ela berrou.
-Não quero, não vou, não vai me obrigar! - Eu dizia, enquanto ela tentava me fazer virar a cabeça.
-É sério, droga. Ele tem pernas peludas! - Ela declarou.
-Ashley, não é legal ficar falando da quantidade de pelos da perna dos outros. - Adverti.
-Lolla, eu tô falando sério.
Depois de brigarmos por algo que pareceram segundos, eu acabei tendo de ver. Ela realmente não estava exagerando.
-Tire esses tênis. - Ordenei. Eu devia estar maluca, só pode.
-É o que está pensando. - Ele disse, apenas. Mas ninguém mais parecia ter percebido nada de estranho.
-QUE DROGA É ESSA?! - Meu irmão berrou. Adicione ele às pessoas que perceberam algo estranho.
-Cueca de ursinho. - Um dos garotos da detenção riu. Mas.. a cueca de Tommy era branca. Não tinha ursinhos.
-Temos de ir. - Tommy disse, levantando as calças. - Vocês três. - Ele apontou para mim, Ashley e Nick. Os dois últimos pareciam estar indo de boa, mas eu parei.
-Aonde vamos? - Perguntei.
-É rápido, juro. Me sigam, por favor. - Tommy implorou, olhando por trás de nós. Ele encarava Jill. Acabei cedendo. Mas Jill tinha outros planos.
-Onde pensam que vão? - Ela disse, se levantando. Sua voz parecia mais grossa. Olhei em volta. Ninguém parecia notar nada. Era como se não estivéssemos lá.
-Você... - Tommy encarou-a, com raiva.
-Desista, sátiro. Não vai conseguir levar três pro acampamento. São poderosos demais. - Ela sorriu maliciosamente. Sátiro. Por que tenho que estar sempre certa?
-Do que ela está falando, Lolla? - Meu irmão me encarou.
-Acampar. Deixar sua mãe pra salvar sua pele. Deuses. Mitologia. - Parei. - Puta merda. - Deixei escapar. - Vamos logo. - E saí puxando Tommy. Os outros me seguiram.
-Não vai consegu...! - Jill berrava.
-DAAAANE-SE! - Berrei, saindo pela porta. Encarei Tommy. - Corremos?
-Corremos. - Ele concordou e saímos correndo, Ashley e Nick em nossos encalços. Nos trancamos no armário da limpeza (que era bem grande) e atacamos Tommy.
-Explique-se. - Ash disse, simplesmente.
-Não sei se devia falar...
-Fale logo. - Ela cortou-o, seca.
-Lolla já entendeu. - Ele me encarou, esperançoso.
-Em partes. - Corrigi. - Como você pode ser um sátiro? Que acampamento é esse? Por que os outros não nos viam? Jill era um monstro? Vou poder morar nesse acampamento? Nick tem que ir junto? Ash e eu podemos ser colegas de quarto? Que acampamento é esse? - Disparei.
-Deuses... - Ele bufou. - É o Acampamento Meio-Sangue, feito para pessoas apenas metade humanas. E a outra metade você sabe exatamente o quê.
-Ei, cara. - Nick encarou-o. - Nós dois ainda estamos boiando. Somos burros, lembra?
-Eu não sou burra! - Ash protestou.
-Sei que não. Mas seria extremamente deprimente dizer que sou só eu. - Ele deu de ombros.
-Enfim... - Tommy recomeçou. - Vocês vão ver. Há pessoas mais indicadas pra falar tudo isso. Precisamos falar com as mães de vocês.
-Minha mãe é inútil, seja lá o que queira fazer. - Encarei-o.
-Mas preciso falar com ela. Podemos ir até a sua casa e... - Ele ia dizendo.
-NÃO! - Cortei-o. - Chame-as pra ir ao café em frente à escola. Podemos fugir pela janela do refeitório. Sei abrir portas com grampo.
-Só porque eu ensinei... - Nick corrigiu.
-Que seja. - Levei a mão ao bolso e puxei meu celular. Sim, eu tinha um celular com 8 anos. Quando sua mãe é dona de uma empresa de advocacia, você pode tudo (não que eu falasse sobre isso com alguém). Estava discando o número de minha mãe quando Tommy tirou o celular de minhas mãos. - Que foi? - Reclamei.
-Não pode usar isso. Rastreador de monstros. - Ele me encarou.
-Dane-se. - E peguei o celular de volta, ligando pra minha mãe. Inventei uma história para ela e fiz o mesmo com a mãe de Ashley. Elas nos encontrariam no café em 10 minutos. Depois disso taquei meu celular no chão e o pisoteei até que virasse farelo. - Problema resolvido.
Tommy me encarou. Não parecia ter gostado da solução. Mas eu não estava ligando.
-Vamos logo. - Ele saiu andando.
-...Mas precisamos dar tchau pro Johnny! - Protestei.
-Não vai dar, Lolla. - Tommy disse, sem olhar pra mim. ‘Não vai dar’? Vai nessa.
-Ok, ok... - Fingi concordar. Conseguimos fugir da escola e chegar ao café antes de nossas mães. Pedi o celular de Nick, sem que Tommy visse. Ele acabou me dando. Fui escrever uma mensagem. Destinatário: Johnny. E escrevi: ‘Estamos bem. Nos encontre no café em frente à escola o mais rápido possível. Urgente.’. Ele respondeu alguns segundos depois: ‘Estou indo.’. Depois disso, pisoteei o celular de Nick também.
-Eeei! - Ele protestou e eu o encarei com a melhor cara de mau que consegui. A mãe de Ashley foi a 1a a chegar (como sempre). Era uma mulher jovem e bonita. Tinha cabelos longos, lisos e castanhos, como os de Ashley, e era bem magra. Vestia uma blusa branca de manga curta básica, uma calça jeans e um All Star. Devia estar dando uma caminhada quando a chamamos. Sua testa estava franzida, assim como a de Ashley fica quando está preocupada.
-Está tudo bem com vocês? - Ela correu para nos abraçar. Eu sempre gostei da mãe de Ashley. Às vezes eu pedia pra ela me adotar. Ela achava que era brincadeira e não respondia. Mas na verdade não era, não.
-Mãe! - Ash sorriu ao ver London Thompson.
-London! - Sorri também.
-Mãe da Ashley! - Nick falou, animado.
-Olá, gente! - E depois, sussurrando: - Quem é esse garoto estranho? - Ela olhou para Tommy. Podia-se ver claramente a quem Ashley tinha puxado.
-Esse é Tommy Fields. - Ash explicou.
-E... por que estou aqui, afinal? - Ela levantou uma sobrancelha.
Tommy deu um passo à frente, como se não tivesse certeza do que ia fazer.
-Está na hora. Eles precisam ir pro Acampamento.
Um surto de entendimento transpareceu nos olhos de London, que abraçou Ashley.
-Eu te amo. - Ela disse. - Você tem que ir, agora. Talvez possa me visitar. Deixe seu pai orgulhoso, Ashley. - Ela sorriu com compaixão. Percebi que não conseguia imaginar minha mãe fazendo isso. Depois ela olhou pra nós. - Cuidem dela.
-Pode deixar, Sra. Thompson. - Fiz um sinal com o polegar pra cima.
-Ah, venham cá! Vocês são da família também! - E corremos pra abraçar a mãe de Ashley. Eu praticamente vivia na casa de Ashley. London era como uma segunda mãe. - E Lolla, - Ela olhou diretamente pra mim. - Seja forte. Pode ser que finalmente consiga o que mais almeja. - E piscou pra mim. Eu não entendi direito o que ela queria dizer com isso. - Ah, e outra coisa: Sua mãe está presa no escritório. Não poderá vir aqui agora. Mas tenho certeza que ela gostaria muito de estar aqui com vocês. - London sorriu com compaixão. - Ainda que ela não saiba por quê. Devia dar uma chance a ela, Lolla.
-Já dei chances demais. - Mordi o lábio. Não queria estragar aquele momento.
-Bem, vocês devem ir, agora. - Ela nos soltou. - Boa sorte. Eu amo vocês. - E ela foi embora.
-Então... vamos! - Tommy ia andando, quando uma voz conhecida berrou atrás de nós. Eu abri um sorriso ao ouvi-la.
-Iam embora sem se despedir de mim? - Johnny Fink apareceu atrás de nós. - Afinal, por que vão embora?
-Precisamos ir. - Olhei para ele. - Vamos pra... pra uma escola diferente. Parece mais um acampamento.
-Vocês vão vir me visitar? - Ele perguntou. Se tratando de nós, ele sabia que era melhor não pedir detalhes.
-Com certeza. - Prometi e o abracei. Ashley e Nick foram e o abraçaram também.
-Vou sentir falta de vocês. - Ele admitiu.
-Nós também. - Dei um sorriso fraco. Olhei para Tommy. - Como vamos pro acampamento?
-Pégasos. - Tommy assoviou e dois pégasos apareceram.
-Que demaaais...! - Johnny se maravilhou.
-Consegue ver os cavalos alados? - Tommy levantou uma sobrancelha.
-Dããã.
-Isso é... bem, eu não imaginava isso. Deve poder ver através da névoa. - Ele disse, pensativo.
-Névoa? - Perguntei.
-Depois explico. - Ele disse (assim como nas últimas 20 perguntas que fiz). - Vamos.
-Então... tchau, Johnny. - O abraçamos pela última vez e subimos nos pégasos. Voar era o máximo. Totalmente surreal. Chegamos ao acampamento uns 20 minutos depois.
-Bem, já que sobreviveram não são filhos de Poseidon. - Tommy concluiu e me encarou logo depois. - Não pergunte.
Fiquei calada. Quando finalmente passamos pela fronteira, algo apareceu acima da cabeça de Ashley. Uma nota musical em dourado.
-Isso ajuda muito. - Tommy deduziu. - Salve a filha de Apollo. Deus do sol, da música, das artes, dos médicos, dos solteiros, e uma pá de outras coisas que eu estou com preguiça de dizer.
-Quer dizer que... APOLLO, o mesmo Apollo da mitologia grega, é pai dela? - Levantei uma sobrancelha.
-Acabou de ver um sátiro e voar em um pégaso, além de ir de São Francisco a Long Island em 20 minutos. Duvida mesmo de qualquer coisa? - Ele me encarou. Eu não respondi.
-E eu e meu irmão? - Perguntei.
-Indefinidos. Vão ficar no Chalé 11 até serem determinados.
-Traduzindo...? - Meu irmão encarou-o.
-Ninguém sabe quem é o pai de vocês, portanto vão ficar entalados num chalé lotado até que descubramos quem é, ou seja, até que brilhe uma coisa dessas em cima da cabeça de vocês. - Tommy explicou.
-Ah. - Respondi, sem muita animação.
-E qual meu chalé? - Ash perguntou.
-Sete. - Tommy respondeu. - Vamos logo. Vou apresentá-los ao Quíron, e antes que Lolla pergunte, Quíron é o diretor de atividades do acampamento. E também vão conhecer o diretor, o Sr. D. Como sei do quanto as duas mocinhas gostam de discutir, vou logo avisando: Não armem barraco com o Sr. D. Só uma dica. - Após dizer isso, ele saiu andando. Passamos em frente dos chalés e Tommy apontou para um de tamanho relativamente grande, cuja cor parecia dourado. Tinha um brilho fraco no Sol, e era bem bonito. - Aquele é seu chalé, Ashley.
-Que legaaal! - Ela deu pulinhos de alegria. Continuamos andando, até que vimos dois garotos, um loiro e um moreno, sentados num banco, perto dos chalés. O moreno franzia a testa diante do loiro, como se estivesse explicando alguma coisa, ou corrigindo. O loiro não dava muita atenção para o que o outro falava, estava mais preocupado em fuçar em seu Ipod. Ashley me puxou.
-O loiro até que é bonitinho, não é? - Ela olhou pra mim.
Virei-me, para prestar mais atenção neles. Até que o garoto loiro percebeu e ficou nos olhando de volta. Parecia ter mais ou menos a nossa idade e a minha altura (sendo Ashley um pouco mais baixa que eu). Seus olhos azuis cravaram em mim e eu não conseguia negar que eram realmente bonitos. Ele ficou me encarando por alguns segundos, até que finalmente o outro garoto o chamou e ele desviou o olhar. Confesso que não fazia ideia de que estava olhando pro meu futuro namorado.
-Odeio te decepcionar, - Tommy começou. - mas Daniel é do Chalé 7, ou seja, é seu irmão.
Ashley fechou a cara ao ouvir isso.
-Afinal, qual a diferença? Somos todos primos, não? - Perguntei.
Ele riu.
-Todo mundo pergunta isso, é incrível... Enfim. O parentesco divino não conta. Exceto se forem do mesmo chalé. Se não, tá tudo bem. - Ele deu de ombros.
-Ah, tá. - E continuamos passando pelos chalés. Até que chegamos à Casa Grande. Um cara de cadeiras de rodas sorriu quando nos viu.
-Vejo que teve sucesso, Fields. - O cara elogiou.
-Ah, sim. Tive. - Ele respondeu, sem graça.
-Foram reclamados?
-Só a morena. Chalé 7.
-Ah, entendo. Sejam bem vindos, afinal! Sou Quíron, diretor de atividades do acampamento Meio-Sangue. - Ele se apresentou e apertou nossas mãos. Depois disso se virou para Tommy: - Quanto eles sabem?
-A loira sabe bastante de mitologia. Sacou muita coisa rápido. Além de ter um milhão de perguntas. O irmão dela está boiando, e a morena não está muito preocupada. - Ele resumiu legal. - Não é estranho? BEM a loira é a esperta daqui... - Ele riu, mas parou quando eu lancei meu olhar ameaçador.
-Seria um grande acréscimo ao Chalé 6. Mas pelo que soube, seu parentesco divino é paterno, certo? - Quíron olhou pra mim.
-Creio que sim. Chalé 6 é Athena, suponho. - Disse.
-Isso mesmo. Tommy, - ele olhou para o garoto. - leve os outros dois para conhecer o acampamento. Quero falar a sós com Lolla.
-Como quiser, senhor. - E Tommy fez o ordenado, me deixando sozinha com Quíron.
-Deve ter passado por muita coisa hoje. - Ele olhou para mim, compreensivo.
-Ah, estou bem. Eu não gostava de casa, mesmo. - Eu ri.
-Parece ser uma garota forte.
-Talvez eu seja mesmo. - Dei de ombros.
-Sei que meu nome lhe incomoda. Pode perguntar.
-Você... não é aquele treinador de heróis de vários milênios atrás, né? Porque aquele cara era um...
-Centauro. Sou eu, mesmo. - Ele sorriu.
-E o que houve com as suas... patas? - Disse, cautelosamente.
-Prefiro aparecer assim em primeiras visitas.
-Ah. Se eu fosse você, não me preocuparia com isso. Já vi muitas coisas estranhas hoje. Afinal, por que queria falar comigo?
-Gosto de fazer isso com alguns campistas. A considerei... interessante. - Ele explicou. - Sei mais sobre você do que pensa, Alison.
-Não gosto que me chamem assim. - Encarei-o.
-Porque era assim que ela te chamava. Sua mãe. Aquela que você odeia. Sei que sua infância não foi um mar de rosas, e, sabe, o que London disse talvez tenha um fundo de razão. Terá um grande futuro.
-Como sabe essas coisas sobre mim? - Recuei, aflita.
-A observo a algum tempo, Lolla. Gosto de fazer isso com alguns campistas, como disse antes. Eu poderia ficar te explicando como tudo isso aqui funciona, e com quem deve andar, mas você parece saber bem seu lugar. Daniel não ficará muito feliz com você aqui. Talvez roube um pouco a cena dele. - Quíron riu. - Daniel é nosso melhor guerreiro. Irmão de Ashley.
-Eu o vi quando estava vindo pra cá. Loiro, olhos azuis... estava conversando com um garoto moreno, um pouco mais baixo que ele. - Contei.
-Luke, do chalé 6. Também um dos melhores guerreiros e estrategistas. - Ele explicou. - Desculpe se a estou assustando um pouco. Mas eu precisava ter essa conversa com você. Tem um bom coração, Lolla. Siga-o. - Essas últimas palavras de Quíron ainda continuam voltando à minha mente, em alguns momentos, mesmo depois de todo esse tempo. - E se as Parcas quiserem que algo aconteça, não as impeça. Às vezes tem de deixar aqueles que você ama ir embora. Não se culpe por isso, também. Lembre disso. Vai precisar em breve. - Ele parou. - Desculpe de novo. Ah, mais uma coisa. - Ele estalou os dedos e meu violão, o mesmo que Johnny havia me dado, e o mesmo violão que eu tanto gostava, apareceu em suas mãos. - Achei que ia querer isso. - Ele sorriu. - Vá logo se encontrar com Ashley e Nick antes que eu fale mais do que devia.
Eu sorri, pegando o violão. Dei tchau a Quíron e saí da Casa Grande. Encontrei Ash conversando com Daniel e Luke num dos poucos e largos degraus da entrada do chalé 7. Essa Ashley...
-Olha ela aí! - Ash sorriu quando me viu. - Estávamos falando de você.
-Bem ou mal? - Brinquei.
Daniel se levantou.
-Sou Daniel. - Ele sorriu. - Prazer.
-Prazer, Lolla. - Apertei sua mão.
-E eu sou o Luke! - Luke acenou, e apertou minha mão. Eu cumprimentei, fingindo não saber.
-Torça pra ser reclamada logo. A não ser que goste de dormir no chão. Ser indefinido é uma droga. Acredite, eu sei. - Sei que Dani estava tentando ser gentil quando falou isso, mas suas palavras não me reconfortaram muito.
-Ah, claro. Espero que sim. - Dei um sorrisinho.
-São de onde? - Luke perguntou. - Manhattan?
-São Francisco. - Corrigi, já me sentando ao lado de Ashley. - Afinal, o que Ashley estava falando de mim? - Ash era um perigo. Era só não ter nada pra falar que já saía soltando coisas vergonhosas sobre qualquer um que não ela.
-Nada demais. - Dani deu de ombros. - Só que era indefinida, que se conhecem a dois anos, e viviam na detenção. E contou sobre a tiazinha maconheira da limpeza. - Ele riu. - E também disse que queriam te por no Chalé 6, aí eu expliquei que eles não decidem onde vão te ‘por’.
Eu suspirei, aliviada, e ri também.
-Ah, tá. Se fossem chutar, quem diriam ser meu pai? - Perguntei, curiosa.
-Não sei... Só espero que não seja Apollo. - Dani parou, percebendo que a frase tinha saído estranha. Então correu pra se explicar: - Porque o Chalé 7 não ia aguentar vocês duas, e eu. É peste demais junto. - Ele riu. - Você toca? - Dani apontou para o meu violão.
-Um pouco. - Admiti.
-Eu toco guitarra. - Ele contou.
-Quando cheguei no chalé ele estava berrando com uns moleques sobre a Selena Gomez. - Ash contou, despreocupada. - Algo sobre um pôster.
-Ah, é. Eu queria por o pôster na parede, e começaram a falar mal da Sel. Aí eu comecei a berrar respostões e virou uma guerra. Enfim. - Ele riu. Eu olhava a paisagem quando uma sombra loira enfezada apareceu indo em direção à porteira.
-Eu... já volto. - E levantei para falar com o meu irmão. Aí vem toda aquela parte que vocês já sabem, então vou resumir. Segurei seu ombro. - Onde pensa que vai?
-Droga. - Ele xingou. - Vou embora. Esse lugar é uma droga. Querem me por pra dormir no banheiro. Acredita mesmo em tudo isso? - Ele me encarou.
-Nick, vimos com nossos próprios olhos. Como podemos não acreditar?
-E quanto ao seu cristianismo?
-Talvez... talvez exista um Deus, acima desses. Isso tudo é novo pra mim, Nick. É novo pra nós. Dê uma chance. - Pedi, ainda que não estivesse realmente acreditando que ele ia embora.
-É muito hipócrita de sua parte, pedir aos outros ‘darem uma chance’. - Ele bateu.
-Vai morrer fora daqui. Se existem deuses, existem monstros. Vão te farejar e acabar com você. - Profetizei.
-Obrigado por acreditar tanto em mim. - Ele disse, magoado.
-Sabe que é verdade! Se eu não disser, quem vai dizer? E se eu não disser agora, quando irei fazer isso? No seu enterro? Acho que não. - Rebati.
Mas ele já havia tomado sua decisão.
-Não vou pedir que venha comigo, pois mamãe disse que eu sou responsável e... - Ele ia dizendo.
-Ah, claro que disse. Por isso que toda vez que ela sai de casa diz ‘e não esquece de fazer a comida do seu irmão’. - Vendo por esse lado, pode parecer que eu sei cozinhar. A verdade é mesmo nos dias atuais, não sei fritar nem um ovo. A comida do Dani é bem melhor que a minha. Na verdade, qualquer coisa é melhor que a minha comida. Mas enfim. Na verdade, só eu era autorizada a mexer no microondas. Por que será, né? Eu podia continuar zoando meu irmão, mas naquelas circunstâncias achei melhor parar. - Não pode ir, Nick.
-Ah, é mesmo? Assista, então. - Ele disse, tirando minha mão de seu ombro e ameaçando ir embora. Lembrei do que Quíron dissera, sobre não impedir as Parcas de fazerem os que quiserem, e sobre deixar quem você ama ir embora (mesmo que eu não fizesse ideia do que eram Parcas). Isso me deu forças.
-Nicolas Aryan. Largue de ser tonto. - Ordenei, meu tom de voz firme. - Tem pessoas legais aqui. Eu e Ash conhecemos dois garotos que... - Eu ia contando.
-Feche os olhos. Por 10 segundos. Tem uma última coisa que eu quero fazer. - Ele pediu.
-Vai me trollar, não vai? - Encarei-o.
-Claro que não. Apenas feche.
Apesar de eu saber exatamente o que ele ia fazer, fechei os olhos. Abri no tempo que ele pediu e me deparei com o que eu temia: Ele tinha ido embora.
-VAI CAGAR, IDIOTA. QUANDO ALGUM MONSTRO TENTAR TE MATAR OU VOCÊ TER QUE AMPUTAR SUA PERNA, LEMBRE-SE DE MIM. - Berrei com todas as minhas forças. Sem resposta. Mas algo me dizia que ele tinha ouvido. Eu me arrependi por muito tempo pelo fato de não ter atravessado a porteira para procurá-lo. Mas hoje entendo que era o melhor a ser feito. Esvairi a raiva de mim e olhei para o céu.
-Deus, pai, ou seja lá quem for, proteja o Nick. Mantenha-o seguro, e vivo de preferência. - Pedi. Não sei o que estava esperando. Mas nada aconteceu. Nem uma nuvem com o polegar pra cima, nem um trovão, nem droga nenhuma. - Vamos lá, eu nunca te pedi nada! Tá, exceto pra passar em Matemática. Mas... se for meu pai aí em cima, seja um bom pai e não deixe seu filho morrer. - Berrei aos céus. Nada. - Que se dane. - Tentei colocar minha cara confiante habitual no rosto, voltar pra entrada do Chalé 7 e dizer que estava tudo bem. Mas simplesmente não dava. Saí correndo pelo acampamento, sem ter ideia de pra onde estava indo. Vi os chalés passando. Seis, cinco, quatro... Todos cheios de gente na porta. Parei em frente ao número 2 e pensei em sentar na entrada dele, que estava vazia. Um trovão retumbou no mesmo instante. - Tá bom, tá bom... - Cedi e parei na frente do chalé ao lado, o 1. Era bem grande, quase o dobro de alguns chalés. Parecia vazio. Esperei pra ver se ia cair um raio em mim ou algo do gênero, mas nada aconteceu. Sentei na grande varanda que o chalé possuía e fiquei admirando as ondas ao longe. Mordia o lábio meio rachado com força. Senti um ódio profundo pelo meu irmão, por me fazer sentir assim. Eu estava pensando seriamente em ficar batendo a cabeça na parede pra sempre, quando uma voz apareceu do nada:
-Tudo bem, sua doida? - Ashley apareceu.
-Ah, é você. - Dei um sorriso fraco pra ela.
-Tudo bem? Eu só vi Nick indo embora e... - A simples menção daquele nome fechou minha cara. - Acho melhor ficar quieta. - Ela concluiu.
-Concordo. - Eu fingia estar interessada na minha unha quebrada.
-Sabe qual chalé é esse? - Ela encarava as paredes de mármore, pensativa.
Comecei a fazer as contas. Eliminando alguns, e tals. Mas por fim a resposta parecia óbvia. O maior chalé só podia pertencer a um deus em especial.
-Zeus. - Respondi, calma.
-Faz sentido.. - Ela deu de ombros. - Agora vem que eu vou te deprimir mais. - Ela sorriu e puxou meu braço, me obrigando a levantar. Pegamos um caminho alternativo para o Chalé 11 (afinal, Ash havia feito um tour pelo acampamento enquanto Quíron me assustava), de modo que não encontrássemos Dani e Luke. Quando finalmente tínhamos reunido coragem pra bater na porta, um garoto de cabelos claros e muitas sardas, com mais ou menos 12 anos, abriu-a pra nós.
-Oi. - Ele disse, apenas. - Devem ser Nicole e Lolla. - Ele deduziu. - Suas coisas estão lá dentro do chalé.
Ashley boiava legal. Eu demorei um momento para entender.
-Ah... não, não! - Parei. - Quer dizer, eu sou a Lolla. E essa é a Ashley. Nick é um garoto. É o diminutivo de Nicolas, e não de Nicole. - Expliquei.
-E onde está Nicolas, então? - Ele nos encarou.
-Ele foi embora. Deixe as coisas dele em um canto. - Pedi, ao notar que ele havia saído sem nada. Idiota. - Enfim. - Entrei no chalé, relutante. Daniel estava certo. Era... simplesmente muvucado. Uma bagunça enorme, e três pessoas em um lugar onde só devia caber uma. E foi naquele momento que percebi que não gostava do Chalé 11. - Onde... onde vou dormir? Não tenho nem onde cair morta aqui! - Disse, atônita.
-Bem, - o garoto começou. - pode escolher entre o banheiro, embaixo da cama do garoto que solta pum, ou na varanda. Você que sabe.
-A varanda me parece uma boa ideia... - Decidi, talvez por ser o único lugar que não fedia. Já bastava aquele futum de gente e vários cheiros de desodorante que o chalé tinha.
-Afinal, é indeterminada ou é da casa? - Ele perguntou.
-Qual deles tem mais privilégio? - Encarei-o.
-Se for indeterminada pode... não, esquece. É tudo a mesma droga. - Ele decidiu.
-Indeterminada. Por pouco tempo, espero. - Soltei um risinho, apesar de estar falando muito sério.
-Eu também espero. Essa coisa vai explodir daqui a pouco. - Ele resmungou. O povo do chalé 11 me arrumou um saco de dormir e eu o pus em um dos poucos espaços livresna varanda. Xinguei meu pai baixinho, quem quer que fosse. Até que me veio na cabeça que poderia ser Hermes. Afastei isso da minha mente perturbada.
-Vamos sair, Ash? - Virei, olhando para ela.
-Graças! - Ela parecia bem animada. Senti uma pontinha de inveja por ela não ter que dormir no chão. De alguma forma, eu sentia que não pertencia àquele chalé. Ou talvez fosse só o mau cheiro. Enfim. Saímos do chalé, e Ashley saiu andando, sem explicação.
-Onde vai? - Perguntei.
-Já volto. - E ela saiu correndo, me deixando sozinha. Meu dia estava cada vez melhor (: Sentei em um grande gramado em frente aos chalés, enquanto observava o mar. A única coisa naquilo que me fizera sorrir fora ver um cavalo marinho pular.
-São criaturas incríveis. - Daniel Knowles apareceu atrás de mim. - Em um dos meus 1os dias no acampamento, quase me afoguei tentando montar em um. - Ele riu. - Não deu muito certo...
Eu ri.
-Faz tempo que está aqui? - Perguntei.
-Na verdade, não. Só poucos meses. - Ele explicou. - Tendo um dia difícil?
-Nem imagina quanto... - Mordi o lábio. - Quíron disse que é o melhor guerreiro do acampamento.
Ele inflou o peito, parecendo satisfeito.
-Bem, acho que sim. - Ele parou. - Posso te ajudar. Se quiser. Podemos começar com arco e... - Ele ia dizendo.
-Não. Arco não. Sou uma negação nisso. - Confessei. - Tenho alguns traumas.
Felizmente Dani percebeu que eu não ia falar sobre meus traumas, e não perguntou. Ou talvez estivesse tentando esconder a felicidade.
-Filhos de Apollo são os melhores arqueiros do acampamento. E têm ótima mira. - Fazia sentido. A mira de Ashley era realmente boa.
-Ótima mira? - Fiz uma careta. - Então acho que não sou filha de Apollo.
-Desenha bem?
-Nem boneco de palitinho. - Eu ri.
-Então acho que não é minha irmã, mesmo. - Ele deu um sorriso despreocupado. - E espadas e adagas? Tem trauma?
-Eu nunca nem segurei uma espada...! Vou ter que lutar com uma?
-Vai. - Ele deu de ombros. Seus olhos fixaram em um ponto, seu pensamento parecia estar bem longe. - Vem comigo! - Ele levantou tão rápido que tropeçou no próprio pé na tentativa de me ajudar a levantar. Acabou que eu que tive que ajudá-lo a não cair.
-Achei que era só eu que fazia essas coisas. - Ri. Um fato: Eu achava que era desastrada. Até conhecer Daniel Knowles.
Ele ficou ligeiramente vermelho. Mas riu.
-Vamos. - Ele pegou meu braço, me puxando.
-Eu disse pra Ash que ia esperá-la. - Lembrei.
-Não se preocupe. É rápido. - Ele deu de ombros e eu o segui até um lugar que lembrava um pouco um depósito. - Esse é o arsenal do acampamento. Vamos pegar uma arma pra você.
-Uma arma? - Levantei uma sobrancelha. - Mas eu nem s... - Eu ia dizendo.
-Calma! - Ele me cortou. - Eu te ajudo. -E entramos no depósito de armas. Haviam milhões. Arcos, espadas, adagas, lanças, machados...
-Deus. - Foi tudo o que eu disse. Olhei pra Dani. Ao ver seu sorriso, comecei a pensar que Dani era realmente um bom amigo. Ele estava realmente empenhado em me ajudar. Será que ele tivera alguém pra ajudá-lo assim? Algo me dizia que não. Será que quando Quíron disse que eu saberia com quem andar, se referia a Daniel? Afinal, como Quíron podia saber dessas coisas? Essas perguntas me infernizam até hoje.
-Vamos ver.. - Dani andava pelas armas, pensativo.
-Acho que quero uma adaga. - Decidi. - Espadas parecem difíceis de manejar, e meus reflexos sempre foram bons.
-Você que sabe. - Havia um tom feliz em sua voz, eu não entendia porque (na verdade, até hoje não tenho certeza).
-Como assim 'eu que sei'? Você tem que me ajudar! - Brinquei.
-Eu gosto da ideia da adaga. - Ele deu de ombros e saiu andando pelo meio das armas. Naquele tempo eu achava que ele estava tentando achar uma legal, mas agora tenho a desconfiança de que ele procurava uma em especial. Após algum tempo de procura, ele achou o que queria. - O que acha dessa?- Ele disse, levantando uma adaga dourada e brilhante. O cabo tinha alguns rabicós, que eram bem bonitos.
-Gostei! - Sorri, apesar de não fazer ideia do que fazia um adaga ser boa. Mas Daniel devia saber o que estava fazendo. - Vou ficar com essa.
Eu podia jurar que vi um sorrisinho no canto de sua boca.
-Que bom, então! Fique só com ela, depois voltamos pra ver o resto. - Ele decidiu. - Essa adaga tem uma longa história. Talvez descubra um pouco dela, se juntar as peças. - Ele piscou. - Pensar não parece ser um problema pra você. - Ele parou. - Eu.. Tenho que ir. Nos vemos depois, Lolla. Prazer em te conhecer. Ai, eu já disse isso. Enfim. - Ele deu um sorriso constrangido.
Eu ri.
-Prazer, Dani. Nos vemos depois. - Acenei, enquanto via ele sair pelas portas do depósito. Voltei ao gramado e encarei bem aquela adaga. - Vamos lá, adaga. Coopere comigo... - Disse, enquanto a revirava procurando não sei exatamente o que. Até que vejo alguns rabiscos nela, feitos por algo pontudo. Aquilo era um Sol desenhado? Provável. Havia algo ao lado, que eu só identifiquei anos depois. Era um raio. Aquilo me atormentava. E atormenta ainda. Dani não tinha como saber naquele tempo que eu era filha de Zeus, ou tinha? Toda vez que questiono ele sobre isso, ele apenas morde o lábio e muda de assunto. Desisti depois de um tempo. Enfim. Agora entenderam por que eu gosto tanto daquela adaga, bitches? u-u Quando estava desistindo de achar mais pistas, Ashley apareceu.
-Onde estava? - Ela me encarou.
-Daniel me ajudou a achar uma adaga pra mim. - Expliquei.
-Ai, que lindo. - Ash zombou. Resolvi não contar sobre a história da adaga. - Deixa eu ver? - Ela pediu.
-Claro. - Cedi, lhe dando a adaga. Ela não parecia ter notado o pequeno Sol, ou, se notou, não deu importância. Após ver, ela me devolveu. - Afinal, onde você estava?
-Eu... ah, não importa. - Ela decidiu. - Eu vou precisar de uma budega dessas também? - Ela apontou pra adaga.
-Acho que sim. - Dei de ombros. - Pede pro Dani. Eu fiquei totalmente perdida naquele arsenal sem fim. - Fiz uma careta. - Ele também disse que filhos de Apollo são bons em arco e flecha. Devia começar por lá. - Aconselhei.
-É, que seja... - Ela não parecia estar prestando um pingo de atenção no que eu falava.
-Atenção, campistas. - A voz de Quíron soou no microfone. - A caça à bandeira será na sexta. Daniel Knowles, Lolla Aryan e Ashley Thompson, na minha sala. Agora.
-Vamos. - Saí correndo, puxando Ashley. Chegamos na sala de Quíron bem rápido.
-Garotas! - O centauro (ainda que na cadeira de rodas) sorriu ao nos ver. - Eu esqueci de um pequeno detalhe. A Caça à Bandeira é daqui a dois dias e vocês não tem armas. - Ele observou.
Dani chegou, correndo.
-Me... me chamou? - Ele disse, sem ar.
-Chamei, Sr. Knowles. - Quíron encarou-o. - Ia pedir que pegasse armas para as duas garotas.
-Na verdade... Dani já arrumou uma adaga pra mim. - Me pronunciei, puxando a adaga da cintura. Dani me encarou, como se não quisesse que eu a mostrasse. Coloquei a adaga de volta na minha cintura, mas era tarde demais.
-Mesmo? - Quíron levantou uma sobrancelha. - Que bom, então. Posso vê-la?
Olhei para Dani. Ele fez que sim com a cabeça, ainda que de mau humor. Dei a adaga para Quíron. Seus olhos se arregalaram ao vê-la. Ele encarou Daniel.
-Sério? - Foi o que ele disse, apenas.
Daniel desviou os olhos.
-Bem, eu pego um arco pra Ash? Escudos? - Ele perguntou.
-Sim, sim. Pegue tudo. - Quíron concordou. - Podem ir. Aproveite e explique o conceito da Caça à Bandeira à elas.
Dani concordou e saímos da sala de Quíron. Fomos até o arsenal do acampamento e pegamos dois escudos, uma adaga e dois arcos (Dani insistiu em levar um pra mim, apesar de eu contestar que ele ia apodrecer num canto pra sempre).
-Bem, - ele começou. - a Caça à Bandeira é bem simples. A primeira equipe que capturar a bandeira da equipe adversária ganha. Vocês duas têm de fazer apenas uma coisa: Não morrer (:
-Ah. Bem animador. - Concordei, de má vontade. Passamos o resto do dia boiando por aí. A noite foi terrível. Meu sono não vinha, e aquele saco de dormir era uma droga. No dia seguinte, Dani se ofereceu pra treinar eu e a Ash. Enquanto Ash estava fazendo qualquer coisa aí, eu e Dani fomos até a arena, que estava vazia.
-Pegue sua adaga. Vamos ver o que sabe. - Dani pediu, puxando sua espada. O que eu sabia? Absolutamente nada. Nem segurar direito a adaga. Saquei-a, apesar de tudo. - Lolla, é na outra mão a adaga. - Ele ensinou.
-Eu... sou canhota. - Contei.
-Isso vai complicar tudo... - Ele xingou baixinho. - Bem, nunca treinei uma canhota antes. Vamos ver no que dá. - Ele deu de ombros, enquanto quase me cortava em duas com a espada. Desviei no último segundo. Ele começou a fazer grandes investidas, e eu só me preocupei em não deixar aquela espada tocar em mim. Por fim, já irritada, dei-lhe uma rasteira e peguei sua espada.
-Já deu. - Decidi.
-Foi bom. Pra uma novata. - Ele disse, se levantando. Devolvi a espada.
-Minha vez. - E ataquei, sem saber o que estava fazendo. Cheguei mais perto, fazendo exatamente o oposto do que ele fizera. Eu investia com tanta facilidade que nem parecia eu. Já estava ficando cansada. Resolvi usar a técnica da Ashley.
-PUDIM! - Berrei, do nada.
-ONDE? - Ele me encarou, sem parar de lutar. Mas ligeiramente confuso (não o culpo por isso u-u). Pudim era algo que (como eu ia descobrir em breve) Dani amava. E que facilmente o distraía. Pensando bem, não precisava de muita coisa para o distrair...
-Aqui. - Girei, colocando a adaga em seu pescoço.
-Não brinque com pudim! Pudim é sagrado! - Ele me repreendeu.
-É o que a Ash fala. - Eu ri. - E agora, como eu fui? - Encarei-o.
-Foi melhor. - Ele disse, de má vontade. Eu levantei uma sobrancelha. - Oh, claro. Foi esplendidamente lindo, como uma deusa. Salvem a deusa Lolla. - Ele zombou. - Pode tirar a adaga do meu pescoço, agora? - Pediu, me encarando.
-Claro. - Concordei, sem parar de sorrir. Esse momento me veio na cabeça quando vi Harmony com uma adaga no pescoço do Dani. Aprendam, bitches: EU, apenas e somente EU, posso por uma adaga no pescoço de Daniel Knowles. - Dê graças por Ashley não estar aqui, senão a notícia de que a novata nocauteou Daniel Knowles se espalharia rapidinho... - Dei de ombros.
-Você não faria isso. - Ele me encarou.
-Dessa vez não. Mas me deve uma. - Mostrei a língua.
-Combinado. - Ele concordou. E tudo o que fizemos nos 4 anos seguintes foi assim. Sempre zombando e competindo. Nunca admitimos um pro outro, mas sempre tivemos uma certa rivalidade entre essas coisas de melhor guerreiro e tals. Mas eram todas essas coisas que faziam da companhia do Dani perfeita <3. Pensar que aquele garoto que eu inúmeras vezes coloquei a adaga no pescoço, que tantas vezes me deixou louca de raiva, que tantas vezes salvei de tudo o que se pode imaginar se tornaria meu namorado 4 anos depois era surreal.
Uma corneta tocou.
-Almoço. - Daniel declarou.
Meu estômago roncou diante da palavra.
-Estômago mau. - Xinguei e fui com Dani até o refeitório. Nem a mesa do chalé 11 acomodava todo mundo. Estava começando a pensar seriamente em colocar uma toalha no chão e comer lá mesmo. Mas não o fiz. Meu almoço acabou criando uma rotina, fosse no chalé 1 ou no 11. Eu pegava meu almoço e um potinho com bacon que Daniel me fazia dar pra ele todo dia, já que só deixavam os campistas terem uma quantidade limitada de bacon, e eu odiava (e ainda odeio) bacon. Passamos o dia conversando com Ashley, Luke e Matt, tive uma noite ruim, blá blá blá, chega o dia da Caça à Bandeira. Naquele tempo, Daniel era co-capitão da equipe azul, sendo capitão o representante do 11. Deixaram eu e Ashley cuidando da bandeira. Quíron deu início ao jogo. Ficamos lá no tédio algum tempo. Até que a hiperatividade da Ash atacou.
-Não vou ficar aqui. - Ela decidiu.
-Mas Dani disse... - Eu tentei contestar. Mas ela já tinha ido embora. - Droga, Ashley. - Xinguei-a. Ótimo. Sozinha, defendendo a bandeira. Ótimo. Até que vi um arbusto se mexer. Droga. Saquei a adaga, relutante. Até que sai uma pessoa morena, cambaleando.
-Mooorreeeeeee! - Berrei, pulando em cima do garoto. Ele começou a lutar comigo. Não era bom como Dani, mas ainda era bom. Até que ele parou de olhar pra mim e olhou para o lado: Um lago. Ele saiu correndo e parou em frente dele. O que ele fez depois vocês já devem imaginar. Uma onda enorme se formou por cima de nós, e caiu com tudo. Olhei para o garoto, ensopada. Ele estava seco.
-Seu... seu... - Eu procurava palavras. Ele ria da minha cara. E aquilo estava me deixando muito doida. Peguei uma pedra no chão. Bem pequena, na verdade. E a joguei no garoto. Pera. Aquilo saindo da pedra eram... faíscas? Não, eu devia estar doida. Como minha mira é ótima, a pedra passou longe do meu alvo, acertando uma árvore. Que foi envolta por uma camada de energia e pegou fogo. E caiu a alguns centímetros do garoto. Ele berrou como uma garota (mas abafa essa parte). Aquela árvore bateu em outra, e em outra, e em outra... Quando eu vi, metade da floresta estava pegando fogo. - Não fica parado! Taca água nessa joça!
Relutante e confuso, ele fez o que eu pedi/ordenei, tacando água em tudo que se podia imaginar. Ele havia feito um bom trabalho. O fogo foi embora tão rápido quanto veio. Mas ainda tinha cheiro de queimado. E as árvores estavam cremadas, claro.
-JAMES, LOLLA! - Ouvi a voz de Dani, ao longe. Ele chegou, com uma expressão assustada no rosto. - O que vocês fizeram?
-Tudo culpa dela. - James apontou pra mim, sem dó. Ele começou a contar tudo pro Dani, tudo mesmo.
-Mas espera aí. Se você é filho de Poseidon, é da nossa equipe. Por que estava lutando com a Lolla? - Dani o encarou.
-Estava divertido. - Ele deu de ombros.
-Aaah, seu... - Eu ia pra cima dele de novo, mas Dani me segurou.
-LOLLA ARYAN. - A voz de Quíron berrou. Ferrou. Hehe’. Ele chegou, pela 1a vez na forma de centauro. - DANIEL KNOWLES, EU DISSE QUE VOCÊ...
Espera. Por que ele estava berrando com Dani?
-Disse pra eu não deixar ela com raiva. Eu obedeci. Foi ele que a deixou com raiva. - Ele apontou pro James. Espera de novo. Quíron sabia que eu podia fazer aquilo, sejá lá o que eu tenha feito?
Quíron xingou em grego.
-O Chalé 4 terá um grande trabalho pra consertar tudo isso... - Quíron pensava. - Que Deméter nos ajude.
-Desculpe. - Pedi. - Se eu puder ajudar em alguma coisa...
-Não. - Ele me cortou. - Deixe com os filhos de Deméter, mesmo.
Olhei em volta. Todos os campistas já haviam nos cercado. Alguns rindo, mas a maioria com cara de quem viu um fantasma. Ashley formou com os lábios somente três letras: ‘WTF’. - Afinal, acho que me deve algumas explicações. - Encarei Quíron.
-A explicação chegou. - Ele apontou para algo acima da minha cabeça. Olhei pra cima. Era um raio. - Salvem a filha do senhor dos céus. - Geralmente as histórias contam que quando um filho dos três grandes é reclamado, as pessoas se curvam e tals. Mentira pura. Ou pelo menos no meu caso é mentira. Mas acho que explodir metade da floresta não te dá muito crédito positivo. Enfim.
A primeira coisa que veio na minha cabeça foi:
-Posso sair do Chalé 11? - Pedi, animada.
-Com certeza. Alguém leve as coisas dela pro chalé 1, por favor. - Quíron pediu aos acampantes. Dois garotos de Hermes se ofereceram, e saíram correndo em direção ao chalé 11.
-Afinal. Nós ganhamos? - Encarei Dani.
Ele assentiu.
-Eu corri pra pegar a bandeira quando vi fogo nas árvores. - Ele riu.
-Pelo menos serviu pra alguma coisa. - Dei de ombros e o abracei.
-Quero abraço tambééém! - Ash veio correndo até nós e pulou nas costas de Dani, o que nos fez cair com tudo no chão.
-Droga, Ashley. - Disse as duas palavras que seriam a marca registrada de minhas conversas com a Ash.
-Eu também quero um abr... - James começou.
-Você não. - Encarei-o, irritada. - Da próxima vez eu acerto a pedra. - Tentei parecer séria mas caí na risada. Ele soltou um riso forçado, parecendo realmente acreditar que eu explodiria ele.
-Bem, parabéns equipe azul. - Quíron parabenizou. - Dispensados. Todo mundo fora daqui. - Ele ordenou, e todo mundo obedeceu mais do que depressa. Eu, Dani e Ash saímos correndo da floresta junto com o povão.
-Então, srta. elétrica. Srta. Raio. Srta. Filha de Zeus. Srta. Eu-explodo-tudo-o-que-eu-quiser, srta... - Dani ia dizendo.
-Ela já entendeu, Daniel. - Ash o encarou.
Eu ri.
-Eu tenho um chalé inteiro só pra miiiiiim. - Comemorei. - Não tenho que dormir do lado de fooora.
-Que desperdício. O maior chalé pra só uma garota de 8 anos. - Dani fingiu desaprovação.
-Não sou uma garota de 8 anos qualquer. Eu sou Lolla Aryan. - Sorri. - E quando meu nome estiver entre Aquiles, Ulisses, e todos esses, vocês vão ver só. - Profetizei o mesmo que diria nos próximos 4 anos e para sempre (até que meu nome esteja lá mesmo. o que VAI acontecer ;D).
-Sei que sim. - Dani sorriu. Não parecia irônico. Bom mesmo. - Mas eu ainda sou o melhor guerreiro do acampamento.
-Eu sei. - Dei de ombros. Era o que ele queria ouvir. Algumas pessoas ainda me zoam até hoje por eu ter colocado fogo na floresta. E algumas ainda tem medo de mim. Infelizmente, James Adams não é uma delas. E quanto à Jill, eu nunca soube o que ela era. Quíron se recusa a falar sobre ela. Mas eu ainda descubro algum dia, ô se descubro...
Dani me encarou.
-Vamos logo, Lolla loka.
-Claro, Dani-encrenca. - Eu ri e saímos andando, Ash falava sem parar. Só mais um dia comum no acampamento. Assim como tantos que se sucederiam a esse ^^
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